Não-Lugares, a caminho de Carcassonne

26.12.08 _ Dia 2

Saída de Burgos, direcção a Vitória-Gastez e desta para Irun,...um caminho de auto-estrada que não gostamos de fazer, o trânsito é muito, os caminhons muitos e pesados, normalmente chove e a visibilidade é muito deficiente,...um lugar a evitar ou um não-lugar...

Os não-lugares é um conceito proposto por Marc Augé, antropólogo francês, para designar um espaço de passagem incapaz de dar forma a qualquer tipo de identidade.

Para fundamentar este novo conceito, Marc Augé começa por discutir a capacidade da antropologia, tal como a conhecemos, em analisar e interpretar a sociedade actual.

Decide por isso construir a noção de sobremodernidade que se diferencia da pósmodernidade, na medida em que esta última é «concebida como a adição arbitrária de traços aleatórios» ao passo que a sobremodernidade releva de 3 figuras de excesso:

a) excesso de tempo por efeito da aceleração da história em que tudo se tornou acontecimento e que, por haver tantos acontecimentos, já nada é acontecimento. Por isso, organizar o mundo a partir da categoria tempo deixou de fazer sentido.

b) Excesso de espaço por efeito da mobilidade de pessoas, bens, informações, imagens, o planeta se ter encolhido, e sentirmo-nos implicados em tudo, mesmo nos lugares mais remotos.

c) Excesso de individualismo por efeito do enfraquecimento das referências colectivas, e porque as singularidades ( dos objectos, grupos) organizam cada vez mais a nossa relação com o mundo.

Auge define o lugar, enquanto espaço antropológico, como um espaço identitário, relacional e histórico.O não-lugar será então um lugar que não é relacional, não é identitário e não histórico.

As auto-estradas, os aeroportos, as grande superfícies são exemplos de não-lugares.



Mas também «campos de refugiados, campos de trânsito, grandes espaços antes concebidos para a promoção do mundo operário e tornados insensivelmente o espaço residual onde se encontram os sem abrigo e sem emprego de origens diversas: por toda aparte espaços inqualificáveis, em termos de lugar, acolhem, em princípio provisoriamente, aqueles que as necessidades do emprego, do desemprego, da miséria, da guerra ou da intolerância constrangem à expatriação à urbanização do pobre ou ao encarceramento»


( Marc Auge, in Le Sens des Autres,1994, pgs 169Os não-lugares são povoados de «viajantes» ou «passeantes» em trânsito.


São, 23.00Horas, acabámos de jantar numa área de serviço da auto-route Irun-Toulouse,...há pouca gente e pouco trânsito, um não-lugar sossegado, carros de matrícula francesa, poucos, com viajantes, jovens casais,afinal portugueses, a caminho de um não-lugar,...acelerados auto-route abaixo...

Cem kilómetros mais à frente, nova área se serviço,...um esticar de pernas, um cafézinho, um par de ténis "de luxo" por 15 €, os primeiros perfumes Lavande e outros viajantes, mais, muitos mais viajantes, portugueses de matrícula francesa,... como nós sairam de Portugal ontem , dia de Natal, mais, muitos mais viajantes de não-lugar, a caminho de um não-lugar...


Viajam, solitários, nesses espaços de ninguém. São não-lugares livres de identidades.No fundo, os não-lugares revelam uma nova forma de viver o mundo. Mas o retorno ao lugar pode ser o sonho dos que frequentam os não-lugares.



Triângulámos Toulouse e encurtamos 40 km ao destino : Carcassonne - onde entramos por volta das 03Horas da madrugada, a admirar as boas vindas da fantástica iluminação de Natal, como a dizer-nos que afinal, o lugar, é onde o Homem quiser... é onde sobrevive.

Ler:Augé,Marc (1994) Não-lugares: introdução a uma antropologia da modernidade, Lisboa, Bertrand editora


A pernoita na AS de Carcassonne, paredes-meias com a cidadela histórica, que visitaremos amanhã.

A Caminho da Côte D´Azur

25.12.08 _ Dia 1


Vai ser a prova de fogo à socialização autocaravanista por terras de França. Tanto temor, regras e dificuldades se anunciam por esses fóruns em português,...que saio pouco tranquilo!
O Mónaco, por oposição à Bretanha, a ver vamos.

As poucas AS´s e os poucos campings (muitas vezes, longe do objectivo) referenciados na base de dados da campingcar française também não ajudam nada a tranquilizar. Seja como fôr,...existirão sempre muitos hotéis, embora não me agrade nunca a ideia de a partir do meio-dia,repentinamente me trasnformar em persona não grata, ou simpáticamente pagar mais uma noite...outras experiencias.


Saímos então de casa, por volta das 16.00horas, rumo a Coimbra e à Campilusa, onde trocamos a botija de gás, reabastecemos de wc-químico e ali mesmo ao lado compramos a habitual dose de leitão à bairrada que nos há-de servir o jantar (e mais se verá), IP_3 acima e na área de serviço do IP_5 na Guarda, já passava das 22.00horas, sair o jantar quentinho e estaladiço acompanhado de um espumante tinto bruto das caves do mesmo nome,...fazia frio, um frio gostoso de ar puro do alto, onde gosto sempre de fazer uma caminhada de desentorpecimento das pernas e do nariz...


Noite limpida, céu estrelado e boa disposição,...até à fronteira é um saltinho. Pouco depois de Vilar Formoso Pé_de_Vento resolve que é chegada a hora de se estender ao comprido entre lençóis e descansar do trabalho das festividades natalícias, que a família é curta e pouco contributiva mas "exigente".


E lá fui eu, com uma noite e estrada convidativa, mais 400 km ao toque de rádio e com o barulho das luzes, numa marcha constante entre os 120 e 140 km/h até já depois de Burgos, na primeira área de serviço da autovia Basca ter encontrado, à direita, o poiso certo para me entregar ao descanso da noite, agora que a digestão estava feita e já não havia gasóleo para mais...eram cerca de 03 horas da madrugada.


E a noite soberba e fria!


Faço o primeiro ensaio geral da chaufagem, leio o livro de instruções e pouco depois, estou verdadeiramente encantado a dormir o sono dos justos.



De manhã,...em boa verdade já passava do meio-dia,.. a primeira grande surpresa da viajem: Travel Van está coberta de gelo e neve,...e que quentinho que é lá dentro,nem se dá por nada!



Hoje, é fazer caminho até Carcassone...

Castelo de Vide,em perspectiva domingueira

FDS_04.10.08 - Dia_3


É tempo de iniciar o caminho de regresso a casa, são passados três dias em ambiente tranquilo e repousante, Portagem, Marvão, Castelo de Vide e o Parque Natural da Serra de São Mamede, são lugares aparentemente dourados e com tudo para serem felizes os industriais de turismo com investimentos na região, o que verdadeiramente parece não acontecer. Apesar de serem lugares de eleição para quem faz das férias, uma oportunidade de descanso, que obviamente, como as demais necessidades, é preciso senti-la!
Diz-se que trabalhamos pouco e mal , o que em minha opinião, é muito consistente com a energia e vitalidade demonstrada e desbaratada pela esmagadora maioria de nós ( e não só), entre a agitação das multidões que sempre se norteiam a sul, nesses poucos dias do ano com direito ao repouso.





Castelo de Vide é uma vila com uma ambiência algo estranha no contexto da arquitectura alentejana, é a expressão mais ou menos dissimulada, da presença de uma cultura diferente, com uma economia mais mercantil, menos ligada á terra, menos agrícola. O estabelecimento da Inquisição e a expulsão dos judeus de Espanha por Fernando e Isabel, contribuíram para o crescimento da judiaria de Castelo de Vide, que mantém na arquitectura e toponímia das suas ruas o testemunho dessa presença, algo que a coloca fora do traço identitário que se respira nas vilas alentejanas, e lhe empresta um ar diferente, misterioso, de uma história de vicissitudes quase imperceptível.









Portas,mais portas, que fecham e se fecham ao exterior,...






,janelas, só em pisos superiores...






A sugestiva "Sombrinha"






Castelo de Vide



Uma janela de liberdade






E a liberdade de estacionar, responsávelmente, como se observa sem qualquer razão para uma discriminação negativa, nem necessidade de "falso-privilégio" de estacionamento em lugar exclusivo para autocaravana.

Fim-de-semana de três dias, no lugar certo,com as condições ideais, são quanto basta para recuperar energias e ficar preparado para mais uma dura temporada de trabalho intenso,que se aproxima até ao fim de ano, época com destino marcado para a Côte d´azur, em autocaravana.



Dizer Não

Diz NÃO à liberdade que te oferecem, se ela é só a liberdade dos que ta querem oferecer. Porque a liberdade que é tua não passa pelo decreto arbitrário dos outros.




Diz NÃO à ordem das ruas, se ela é só a ordem do terror. Porque ela tem de nascer de ti, da paz da tua consciência, e não há ordem mais perfeita do que a ordem dos cemitérios.




Diz NÃO à cultura com que queiram promover-te, se a cultura for apenas um prolongamento da polícia. Porque a cultura não tem que ver com a ordem policial mas com a inteira liberdade de ti, não é um modo de se descer mas de se subir, não é um luxo de «elitismo», mas um modo de seres humano em toda a tua plenitude.




Diz NÃO até ao pão com que pretendem alimentar-te, se tiveres de pagá-lo com a renúncia de ti mesmo. Porque não há uma só forma de to negarem negando-to, mas infligindo-te como preço a tua humilhação.




Diz NÃO à justiça com que queiram redimir-te, se ela é apenas um modo de se redimir o redentor. Porque ela não passa nunca por um código, antes de passar pela certeza do que tu sabes ser justo.




Diz NÃO à verdade que te pregam, se ela é a mentira com que te ilude o pregador. Porque a verdade tem a face do Sol e não há noite nenhuma que prevaleça enfim contra ela.




Diz NÃO à unidade que te impõem, se ela é apenas essa imposição. Porque a unidade é apenas a necessidade irreprimível de nos reconhecermos irmãos.




Diz NÃO a todo o partido que te queiram pregar, se ele é apenas a promoção de uma ordem de rebanho. Porque sermos todos irmãos não é ordenanmo-nos em gado sob o comando de um pastor.




Diz NÃO ao ódio e à violência com que te queiram legitimar uma luta fratricida. Porque a justiça há-de nascer de uma consciência iluminada para a verdade e o amor, e o que se semeia no ódio é ódio até ao fim e só dá frutos de sangue.




Diz NÃO mesmo à igualdade, se ela é apenas um modo de te nivelarem pelo mais baixo e não pelo mais alto que existe também em ti. Porque ser igual na miséria e em toda a espécie de degradação não é ser promovido a homem mas despromovido a animal.




E é do NÃO ao que te limita e degrada que tu hás-de construir o SIM da tua dignidade.




Vergílio Ferreira, in 'Conta-Corrente 1'

Mais Fé na Democracia Portuguesa


25.06.2009 - 07h27 Sofia Rodrigues

Projecto de lei do PSD

PS vai chumbar novas regras para autocaravanas

25.06.2009 - 07h27 Sofia Rodrigues

"Não podem estacionar em todo o lado que lhes apetece, mas só se pode proibir quando há alternativas", justificou o deputado Mendes Bota, autor do projecto de lei. É proposta ainda a criação de infra-estruturas de apoio nas estações de serviço de maior dimensão, onde os turistas possam, por exemplo, descarregar a caixa de esgotos do veículo.

Apesar de considerar o princípio de regulação louvável, o PS não vai deixar passar o projecto, argumentando que não há necessidade de legislar sobre a matéria. "Pode haver problemas de fiscalização, mas não sentimos necessidade de criar legislação específica até porque os veículos não estão discriminados no Código da Estrada", afirmou ao PÚBLICO a deputada do PS".
Isabel Jorge.
In Jornal Público, hoje
Com esta notícia melhorámos a nossa fé na democracia portuguesa, e daqui endereçamos um voto de felicitações e congratulação ao grupo parlamentar do PS, por esta tomada de posição,... em boa hora!

Estrada Para a Cidadania!?

Vejamos:



1.Que dizer de um lugar de estacionamento exclusivo para ac´s que pode ser ocupado durante 72 horas consecutivas, senão que é um parqueamento ? (mesmo para um simples automóvel)
Que só funcionará com a devida rotatividade se fôr severamente taxado por hora!

2.Obviamente implanta uma situação de policiamento generalizado, toda a regra em que a norma é a proibição (no caso de estacionamento) !
E de nada vale acrescentar que se no caso de estar o EEA cheio, se pode estacionar no domínio publico…porque entre o momento que abandona a sua AC, e o momento em que volta, poderá haver muitos momentos com lugares livres e muitos policias a passar por lá.

3. O mais grave: reduz direitos de cidadania porque quando homens livres abdicam dos seus direitos, como única forma de pôr cobro a abusos de outros, é toda sociedade que regride!
... qualquer coisa como o governo vir declarar o Estado de Sítio definitivo, porque não encontra outra forma de acabar com uma onda de assaltos que avassala o país! Não é possível concordar com isto!
Concluindo,
Razões de sobra para preocupar quem pensa respeitar a Lei, outros porventura pensarão que a Lei não se aplica a eles,…

Marvão em tempo de “Al Mossassa”.

FDS_03.10.08 - Dia_2

Um soalheiro dia de outono! Com a autocaravana estacionada debaixo de uma velha oliveira, apetecia um passeio de moto,... e lá fomos nós para Marvão, ver como paravam as festas islâmicas da vila. No caminho, a estrada contorce-se nas vertentes. A cada curva Marvão cresce. A linha de muralhas ganha nobreza e uma dimensão quase inexpugnável. Em torno a paisagem abre-se e, nas serranias, toma vulto o pico da Serra de São Mamede, para lá dos 1000 metros de altura chega-se a um extraordinário mirante do alentejo e de terras de Espanha.

Parque de estacionamento cheio, muitos automóveis , algumas caravanas e muita polícia a tentar garantir a fluidez e a ordem. Passar a Porta de Rodão e estacionar já dentro das muralhas é nesta altura um privilégio só acessível a motociclistas.

Contida no tempo e no edificado entre muralhas, tomam gradualmente forma, fachadas, janelas, telhados, varandas, portas, calçada de pedregulhos toscos, tudo excelentemente conservado, emergindo de um mundo já sem os verdadeiros personagens, parecendo algures no tempo, terem esquecido haver vida para além daquelas muralhas,...num nostálgico abandono de tempo passado, ímpossível de reabilitar para novas gerações senão como arqueologia urbana, a ocupar e viver, a espaços, por turista ocasional,... a agenda de eventos marca a vida do lugar e a economia de resilientes, poucos. O passado faz-se com histórias de muitas partidas, quer para as grandes cidades, quer para a emigração.

“Malvão”, ou nem por isso, é o que nos diz as histórias antigas e novos projectos de gerações da família, pela voz da simpática proprietária e talentosa cozinheira, do muitíssimo recomendado " Varanda do Alentejo", onde tardiamente, mas ainda a tempo, abancámos para uma genuína e deliciosa carne de porco à alentejana, com um genuíno tinto do Redondo,...redondinho!

A calma que paira nesta vila, é por si só um bom motivo para aqui passar um fim-de-semana.

Mas as festividades já se faziam sentir com o entusiasmo esperado, estava montada a encenação do acontecimento, a “Al Mossassa”. Uma festa islâmica que reconstituiu a ambiência das vendas de uma época distante e entretém como espaço aberto à imaginação e à história, para além de repleto de boas recriações e animações interagindo com os visitantes.

Hora de tomar um perfeito e digestivo chá-verde, com direito ao copo para recordação e de abancados na tenda árabe, ver o belíssimo desfile passar....

A noite caía e o pôr-do-sol pintava a atmosfera para uma sugestiva Fada em camelo evocar a mística do quarto-crescente lunar.


Excelente remate de festa,...
Nós montámos na nossa Zongsheng e evocámos, montanha abaixo, a direcção do camping da Asseiceira, para mais uma bela noite embalada nos cânticos de chocalho e mées da boa vizinhança.
Amanhã em Castelo de Vide.

A Ilusão da Viagem

Viajar é o paraíso dos tolos.


Devemos às nossas primeiras jornadas a descoberta de que o lugar não significa nada. Em casa, imagino sonhadoramente que em Nápoles ou em Roma poderei intoxicar-me de beleza e livrar-me da tristeza. Faço as malas, abraço os amigos, tomo um vapor e, finalmente, acordo em Nápoles e lá, diante de mim, está o facto insubornável, o triste eu, implacável, idêntico, de que fugi. Visito o Vaticano e os palácios. Finjo estar intoxicado com as visitas e as sugestões, mas não é verdade.

O meu gigante acompanha-me por onde vou.

Ralph Waldo Emerson, in "Essays"

Ser Turista é Fugir da Responsabilidade


Ser turista é fugir da responsabilidade. Os erros e os defeitos não se colam em nós como em casa. Somos capazes de vaguear por continentes e línguas, suspendendo a actividade do pensamento lógico. O turismo é a marcha da imbecilidade. Contam que sejamos imbecis. Todo o mecanismo do país hospedeiro está adaptado aos viajantes que se comportam de um modo imbecil. Andamos às voltas, aturdidos, olhando de esguelha para mapas desdobrados. Não sabemos falar com as pessoas, ir a lado nenhum, quanto vale o dinheiro, que horas são, o que comer ou como o comer. Ser-se imbecil é o padrão, o nível e a norma. Podemos continuar a viver nestas condições durante semanas e meses, sem censuras nem consequências terríveis. Tal como a outros milhares, são-nos concedidas imunidades e amplas liberdades. Somos um exército de loucos, usando roupas de poliester de cores vivas, montando camelos, tirando fotografias uns aos outros, fatigados, desintéricos, sedentos. Não temos mais nada em que pensar senão no próximo acontecimento informe.




Don DeLillo, in 'Os Nomes'

Lançamento do Livro " Autocaravanismo"

Dia 23 de Junho, 3F as 18h na sede do ACP, em Lisboa, salao das assembleias gerais a apresentação do livro abaixo, por Carlos Barbosa, Vasco Calixto, autor e editor.

É sempre um largo prazer ler as crónicas de viajem do bom companheiro e ilustre autocaravanista Decarvalho!

A autenticidade dos relatos, a fluidez de linguagem, a riqueza de vocabulário, a utilidade dos olhares e observações, o prazer da viajem pela viajem que como ele próprio diz citando:

"...dizem os peregrinos de Santiago de Compostela ao fim de uma centena de km a pé..."já nao estamos a fazer o Caminho, é o Caminho que nos faz, a nós...."- porque toda a viagem é uma iniciação, que se adentra a nós mesmos...os que o queremos perceber!"

Por tudo isto, e o muito mais que se adivinha, felicitamos o autor e confessamos não resistir à curiosidade de ler a obra, já nestas férias grandes em autocaravana..., pois claro.




"É aí. GPS 37º 07´13,20´´ Norte, e 8º 32´49 11 Oeste.

Noite descansada depois de um parquear ajudado por um dos pouquíssimos autocaravanistas portugueses que se esgueirou mais um pouco para cabermos os dois em paralelo. Porém é de dar nota negativa aos muitos estrangeiros parqueados no segundo estacionamento já que no primeiro, cheio, estava tudo correcto. Ou seja parados na vertical do horizonte e não na longitudinal, ocupando quase 4 lugares de parqueamento de outras mais 3 autocaravanas.

Acordar dia 9 de Abril, 5F. O som de despertar foi o grasnar esvoaçado de gaivotas. Ora gaivotas em Terra…O pequeno-almoço típico, só que foram de torradas de pão alentejano comprado no Algarve, em Lagos. Depois uma volta pelos arredores, a tempo de ver despejo de cassete de um inglês nas ervas altas atrás de autocaravana. Resta saber s e houvesse uma área de serviço se se daria ao incómodo de lá se deslocar. Outros com bicicletas e cadeiras de estender preparavam-se para se esticarem ao sol, e ainda outros dentro dos seus blindados, esperavam que a roupa secasse ao sol nos estendais. Tudo gipsy style.


O tempo clareava, ensoleirava-se, mas não o suficiente para ir a banhos, Passear a pé sim…e sem descer ao areal, beneficiado com os passadiços de madeirame pontilhados de restaurantes modernaços, ficamo-nos pelas arribas, e pelo percurso ao longo da costa por entre esplanadas de restaurantes e vistas de mar, e de gaivotas, e de gentes lá em baixo na praia aconchegados por tee-shirts não despidas. As fotos aí estão!

Era de aproveitar ainda mais o tempo. Assim comprado o jornal, foi a escolha de uma esplanada mais ao sol e leitura vagarosa dos títulos ao lado de um café. Tempo de descanso e depois o inevitável acerto de horas de almoço, a ida ao Continente para comprar uns camarões, um vinho, um presunto fatiado, e pelo meio-dia lá estávamos no terraço virado à baía do Arade na boa da conversa, com o Rui e mulher. Bom almoço, bons amigos, bom tempo!"

Mais informações no blogue do autor em :http://camping-caravanismo-e-autocaravanismo.blogspot.com/

Portagem

FDS_02.10.08 - Dia_1



Dia 2 de Outubro,....17 horas rumo: Alto Alentejo!



Primeiro fim-de-semana em autocaravana. Propósito, encontrar algum sossego, sentir algum do tempo a passar,..lugares sem stress, com silêncios e com sorte talvez até algum tédio.





Chegada à Portagem, por volta da meia-noite de quinta-feira. A noite foi passada entre arvoredo à margem da piscina fluvial da Portagem, localidade situada no sopé do monte que suporta a bela vila de Marvão. Situada em plena Serra de São Mamede e a escassos quilómetros de Espanha, a tranquila Portagem foi abrigo seguro e repousante a dois autocaravanistas esgotados que ali quiseram pernoitar. A sensação de segurança foi confirmada pela presença de uma brigada de polícia que por vezes ali passava.





O acordar fez-se já pela hora de almoço do dia 3, e ali bem perto, depois de atravessado o arco romano, no pequeno bar junto ao rio Sever petiscámos um prato de apetitoso "Leitão Frito em d'vinha de alhos", acompanhado de pão e vinho da região. Uma coisa 5*,... quase oferecida.












Na Portagem o rio Sever de águas límpidas e frias é utilizado como praia fluvial, e o complexo de piscinas e parque de lazer está muito bem conseguido, tendo resultado num belíssimo ponto de repouso e lazer não só para as gentes da terra, mas também para quem a visita. Hoje são nossos hermanos e reformados espanhóis que vêm apanhar um cativante sol de outono.








A corrente vai mansa nesta época do ano e o açude retém as águas, acomodando-as numa grande e bela piscina fluvial. Próximo, a ponte e a Torre, tornada homenagem aos milhares de judeus que por aqui passaram fugidos de Espanha. Na Portagem, assim chamada, porque nela os judeus expulsos de Espanha pelos Reis Católicos, pagavam a "portagem" para entrar em Portugal pela ponte romana, ainda existente no local, junto ao complexo de lazer, bem como a torre militar que, então, fazia a fronteira.














Acima, ao fundo, na escarpa granítica a pique as muralhas, o castelo e o casario de Marvão.
As escarpas tornam-se espanto redobrado quando percebemos que as alturas revelam um esforço humano colossal com onze séculos. Ali, onde supomos habitar somente o vento, percebemos que a rocha suporta muralhas. Atrás, destas, assomando timidamente, o ocre dos telhados e uma ou outra torre alva mais atrevida. Vive ali gente, entre as nuvens, o voo das aves e os ventos das alturas. Em breve, durante a tarde do dia 3, a estrada sinuosa, encaracolando monte acima, leva-nos até ao coração da vila de Marvão.
O monte que suporta Marvão, no coração do Parque Natural da Serra de São Mamede, obriga-nos a, invariavelmente, torná-lo protagonista de quase todas as histórias do lugar. A Serra do Sapoio, é dramatismo geológico, esforço acrescido da natureza para congeminar relevos.






Depois do almoço, fomos ao encontro do local programado por nós para as pernoitas seguintes, o Parque de Campismo Rural da Asseiceira, (de um cidadão inglês, que mal falava o português, pois estava cá há sómente 6 meses, ex-condutor de longo curso, cansado, com visão e oportunidade na construção de uma vida alternativa- radicado agora em portugal), situado perto de Santo António das Areias, na encosta norte de Marvão, onde se ouviam além do frequente cantar dos pássaros, as "vozes" tão interessantes das vacas, cabras e ovelhas que pastavam por aquelas bandas. Uma conversa simples e agradável...


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http://www.campingasseiceira.com/pt/newindex.htm


O camping Asseiceira, não consta de roteiros, nem tem classificação oficial, mas nós recomendamo-lo como de 5*, para quem aprecie algum sossego e ar puro,...com a sombra de velhos chaparros e velhas oliveiras, cadeirinha na rua, olhar o monte e Marvão, ensaiar novas leituras,... com o pôr-do-sol recolhimento a um jantar de mais uma dose "Leitão Frito em d'vinha de alhos", desta vez com um branco fresquinho de Favaios, recolhido na adega cooperativa do próprio em 2003 e uma ligação ao escritório em LogMeIn, para um pequeno serão de trabalho,graças à ligação wireless gratuíta, enquanto pé-de-vento, descobre a história e estórias destas paragens, e traça rumos mais detahados para o dia seguinte.





Já tinhamos passado diversas vezes em Portagem, mas dedicar-lhe um merecido dia , sem pressas, e desfrutar da beleza dos cantos e recantos é privilégio de autocaravanista ! Supreendo-me, com o mesmo agrado , com que à anos atrás me surpreendia, com outros autocaravanistas, que encontrava, em recantos da minha zona, nos lugares mais imprevisíveis e com matrículas a indicar longinquas origens,...pareciam-me e continuam a parecer-me senhores de todo o tempo do mundo ! Como que a dizer que, só sem pressas é possível chegar tão longe.