Reiniciar

Decorria o ano de 1982, dia 19 de Agosto, depois de uma curtíssima e restrita cerimónia de casamento, a partida para a viajem de núpcias. O carro, uma peugeot 204 carrinha com meia-dúzia de anos, na bagagem uma meia dúzia de patacos e uma canadiana de três pessoas, a montar onde caísse a noite e a vontade de prosseguir viajem. O parque de campismo de Vila Nova de Mil Fontes foi o Paraíso nessa noite. Estava consumado o baptismo com as noites estreladas a céu aberto.

O talão do registo de entrada é ainda hoje um velhinho marcador de página nas folhas de um livro esquecido.

Há época Vila Nova de Mil Fontes, tinha a naturalidade a sobriedade e o carácter da figura do alentejano de botim, calça com cinta e chapéu de aba, único senhor daquele destino estival.

Volvidos quatro anos de viagens e aventuras, a água que durante a noite caía do céu fechado e escuro de São Sebastian Donostia, prostrava como mortalha o pano simples de uma canadiana por cima de dois corpos desconhecidos, entrecruzados e recolhidos num impressionante e aparente gélido abraço mútuo, a poucos metros de distância de mim no abrigo do carro.

Já com novo equipamento, a noite seguinte em Andorra havia de ditar idêntica e repetida má sorte e consequente "definitivo" abandono das noites ao ar livre. Foi então que descobri que a mesma meia dúzia de patacos já comprava um confortável quarto de Hotel e sobrava dinheiro. Vivia-se bem!

Passaram 22 anos, muitos destinos e muitos quartos de Hotel, …hoje com saudade daquela precariedade e algum revivalismo, faço a minha primeira viajem em autocaravana, com uma esteira na bagagem, em busca de um reinicio e de um céu estrelado.

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