CPA ou APADA ?

a charada que uma resposta séria a uma pergnta inocente, pode despoletar:

Desabafando,penso que não seria dificil obter no médio prazo obter um reconhecimento de interesse público, considerando que :

1- Trabalho e Férias são valores constitucionalmente defendidos e indissociáveis.

2- Turismo Itinerante é sinónimo de mais conhecimento (para citar um companheiro bloguista).

3- Autocaravanismo é (sem dúvida) paixão pela natureza e defesa do ambiente.

4- O acesso à modalidade é quasi universal sendo que ao melhor espírito de aventura e natura e aos de mais baixo rendimento se ajustam soluções económicas, não excluindo ninguém.

5-A expressão dos orçamentos de viajem que os autocaravanistas fazem questão de publicitar, são disso prova e incentivo.

6- O INATEL (pago pelo orçamento do estado), tem uma sobrecarga e procura indiciadora do potencial de crescimento e necessidade de soluções mais abrangentes.

7- A errância do autocaravanista transforma-o num activo vigilante do meio-ambiente.

8- São razões de defesa económica sectorial, nada democráticas, outras vezes razões de aculturação, que levam alguns a arvorarem-se opositores da modalidade.

9-O exemplo da França, como grande destino turístico mundial, onde a expressão maior desta modalidade demonstra a sua viabililade em coexistência pacífica com os outros sectores da indústria turistica. (Paris não é a cidade das luzes, por ter mais lâmpadas).

10- Enfim outras considerações haverá....

Mas entretanto é necessário sem dúvida, fazer o tal trabalho de casa:

1-Criação do Observatório não governamental. (Identificar e quantificar parceiros - mesas redondas com institucionais e outros)

2-Promover e publicitar as virtudes e projectar as virtualidades em seminários.

3- Afiliação orgãnica em organismos internacionais e política com transversalidade na sociedade.

4- Fazer loby

Talvez a CPA se pudesse vir a chamar, por exemplo :

APADA - Associação de Promoção do Autocaravanismo e Defesa do Ambiente

Vantagens :

1- A possibilidade de candidatura à partilha de dotações orçamentais, centrais, regionais e locais.

2- A possibilidade de recolha voluntáriamente dirigidada da afectação de 5% das obrigações fiscais dos seus sócios.

3- A indepedência financeira e a organização de serviços com criação de emprego em sede capaz de responder ao desenvolvimento dos planos de actividades.

4- Aquisição de locais, promoção e exploração das suas própias Àreas de Serviço

5- Etc,etc, etc...

?!- Constituição de um Fundo de Investimento de Capitais, a cotar,...onde? )

Enfim, fala-se tanto por aí que é preciso dar a volta a isto,...é mais uma achega para a discussão!Afinal eu sou o sócio número 15??,...há clubes de Futebol com menos associados! Têm orçamento e fazem o campeonato deles.

(Respigado do fórum CPA)

Costa Cantábrica

Foi uma experiência de Páscoa em 2002, para recordar.
Com inicio e términus em Génova, num barco de tamanho quanto baste para o conforto necessário, sem deixar de viver e sentir o mar e sem o buliço interior dos gigantes hotéis flutuantes,.... viajar enquanto se dorme e acordar tocando diferentes países em cada manhã é de facto um privilégio que deve ser experimentado.
Cinco países e culturas muito diversas da bacia mediterrânica em quinze dias,...e contas feitas mais barato do que uma qualquer idêntica estadia num qualquer quatro estrelas português.
Os momentos de tranquilidade no deck, ouvindo a água e o vento correr ao longo da quilha, enquanto se avista a costa Cantábrica, ou se atravessa o estreito de Melisses calam toda a gente.
São momentos de silêncio.




Chipre

Cansado de correr atrás de camionetas manhã bem cedo, resolvi ficar a bordo e olhar Limassol a partir de uma chess-long no deck. Decisão tomada em boa hora,... horas mais tarde tinha a notícia de que a camioneta tinha avariado pelo caminho.
Um olhar distante sobre a floresta, em abono da verdade, muito árida e um dia aproveitado para repouso, algumas leituras e um banho de sol convidativo.
Um passeio a pé pelo porto de Limassol foi o suficiente para que o destino se cumprisse.

Creta

É daquelas paragens que desiludem,...ou a viajem já acusa algum cansaço.
Heraklion é uma cidadezinha que naturalmente satisfaz a curiosdade pela observação do modus vivendi genuíno dos gregos, mas a curiosidade face à história de uma cultura minóica, fica prejudicada.

Sem motivos capazes de fazer de Creta um destino turístico, os gregos forçam e forjam a jóia da coroa,... o palácio de Knossos é um "bom" um exemplo do que não deve ser feito com o património histórico. A ponto de sentirmos na visita, que tudo não passa de um logro, encenação e mentira.
As reconstituições é mais coisa de cinema!



Materiais de épocas distintas sobrepostos, ocultando o original e acelerando a sua degradação mútua. A natureza e os fenónemos higrotérmicos revelam a mentira,...a cultura minóica, sem herdeiros.


Exame(s) de Condução

Hoje fiz o meu exame prático de moto. Era acompanhado entre outros,por um jovem de vinte anos, que já havia chumbado três vezes em código e duas vezes em condução. Finalmente ele já obtera aprovação no código e na condução automóvel e restava-lhe hoje ser bem sucedido em condução de moto, para se livrar do calvário.


Enquanto esperávamos pela nossa hora de exame, num bar paredes-meias com o centro de exames, reparei que ele de vez em quando se levantava sorrateiramente, encostava-se ao balcão e emborcava qualquer coisa parecido com um copo de 3 tinto.
Ao aperceber-me, questionei-o a que propósito bebia vinho naquela hora!?
Confessou-me sentir-se muito nervoso e precisar de acalmar,...
Eu pus-me com aquelas partes de conselheiro...,mas logo me foi informando que foi só assim que conseguiu passar das outras vezes ! Afinal não era tinto, era Porto, mesmo!
A moça do balcão (outra jovem) ao perceber a conversa, ia sorrindo e acenando a cabeça em jeito de aprovação e fiel testemunha.
Lá fomos!
Primeiro ele na moto. O mestre e a senhora engenheira nos bancos da frente e eu no banco de trás do carro " patrulhamento".
Tudo corria às mil maravilhas, mas eis senão quando, o nosso rapaz pára sózinho na estrada olhando demoradamente uns sinais luminosos que não mudavam de tonalidade porque enfim, eram daqueles que só acenderiam se alguém passásse com excesso de velocidade.
E ali ficou!
Foi preciso buzinar-lhe e mandá-lo seguir.
No fim (dizia:o sol reflectia naquelas lâmpadas e até pareciam estar acessas) num dia que ameaçava chover mas que acabou por ser (graças a deus) uma data feliz para toda a gente.
Eu lá segui a minha vida, a rir sózinho e a pensar na forma suicída como esta juventude manifesta o seu desprezo e descrédito no sistema.

Burocracia à Portuguesa

É uma queixa corrente, poucas vezes substanciada, porque sempre se tratam de experiências individuais, em processos que no términus até parecem justificar-se.
Importei em janeiro deste ano uma moto Zongshen, nova, a partir de um distribuidor de Zaragoza. À chegada era acompanhada de toda a documentação que entreguei no Automóvel Clube de Portugal, de que sou sócio, para tratarem das formalidades de importação e registo.
Volvidos seis meses e mais outros tantos papéis, do IMTT, em conversa informal sou informado que ou arranjo mais o documento X e Y,Z..,ou em alternativa faço o registo de matrícula em Espanha (permisso de circulação) e depois importo, o que pressupõe o pagamento de registo e Iva em Espanha e depois novamente em Portugal.
O que é frustrante nisto e verdadeiramente português !?
É que a mesma moto e modelo é vendida e distribuida a partir de Zaragoza para Itália, Holanda, Bélgica e Espanha,...países onde os mesmos documentos que me foram entregues, bastam para legalizar o veículo.
Veja-se! Com a mesma documentação posso registar o veículo em qualquer destes países e depois importá-lo, mas não consigo importá-lo como novo e fazer o primeiro registo em portugal.Informação ACP e IMTT.
Está comprometida a ideia de em julho acoplar a moto à autocaravana para umas voltas mais curtas.
Quem sabe se em julho, acoplada e estacionada a autocaravana em Espanha eu consigo um atestado de residência e o respectivo "permisso de circulação"!? A ver vamos.
Isto é verdadeira subsidiaridade, Viva portugal.
PS:
Na verdade o que me pedem do IMTT é o documento de homologação da moto, da minha moto, com o meu número de motor.
O que o distribuidor me fornece é o documento de homologação do modelo da minha moto e o livrete de inspecção e aprovação em Espanha, da minha moto, com o meu número de motor e daquele modelo.
(será que há nisto alguma questão de português?)
Falando claro:
Imagine-se um fabricante de automóveis, televisores, computadores, colectores solares, o que se queira. Imagine-se que esse fabricante certifica a qualidade e o respeito por todas as normas técnicas em vigor na comunidade, de um modelo que projecta construir em série e o certifica junto de um laboratório creditado internacionalmente.
Depois de certificado esse modelo, o fabricante mete no mercado o seu produto com cópia dessa certificação e uma tarjeta de fiabilidade na produção, assegurada por um qualquer organismo encarregue de fiscalizar a manutenção dos processos de qualidade, em principio o mesmo laboratório ( ou outra entidade de acreditação)
Pois bem, neste caso além da acreditação, há a "tarjeta" do registo oficial da minha moto, que importei (aquele número de chassi e motor) na congénere espanhola da nossa DGV,...a certificação é a daquele modelo de moto (em geral) pelo labotatório de homologação, no caso holandês.
Ora o que os senhores IMTT em portugal querem é (na prática) que o tal laboratório holandês faça a homolgação da minha moto (aquela entidade fisica que comprei) em concreto e particular.
Isto não existe em produção fabril, em nenhum sector (carros,motos,televisores,etc...) em nenhum país.
Não percebo,... deve ser mesmo uma questão de português! Alguém que me explique p.f.

Pompeia / Nápoles

Impressiona a organização, a arrumação , enfim o urbanismo e a urbanidade que se adivinha ter estado no dia-a-dia daquelas gentes. A praça central, o fórum, a igreja, as casas de "Madalena", os edificios político/administrativos e a estreita relação de todos eles com a(s) moradia(s) do povo anónimo, as termas, os sanitários públicos, a drenagem de esgotos,... revelam uma qualidade abrangente e integradora surpreendente. Não há testemunho civilizacional da urbe, daquela época que se lhe equipare.

Tudo muito bem conservado.

Paredes meias, Nápoles é a nova cidade das mesmas gentes,... mas agora expondo as fragilidades da economia (que entretanto se perdeu), revela-se uma cidade sombria, deprimida, sem arrumação nem brilho, como o subúrbio de um passado glorioso, morto e enterrado nas poeiras vulcânicas do velho Vesúvio.
Não admira muito,...as recentes noticías do lixo que não se recolhe das ruas e a que se deita fogo.


Miralta, 25 anos.

Há viagens maiores!
Tão grandes, que a data de chegada, não pode deixar de ser assinalada.

Nessa altura são os amigos que vêm até nós. É obrigatório comemorar!
E é um privilégio testemunhar, como são boa gente, boa companhia.

Assinala-se a chegada, mas também uma nova partida, mais uma vez sem términus à vista.
São vinte cinco anos de trabalho, muito trabalho, trabalho puro e duro! É o preço em estar casado com uma mulher tão bonita como a minha.Para ela imagino, igualmente dificil viver com um estafermo como eu.

Merecemos a festa.



Património e Tradições

Se me permitem,

acho muito interessante tudo o que disse neste tópico até agora. Diferentes opiniões e perspectivas que me parecem todas, sem excepção, acertadas, embora por vezes se afigurem quasi contraditórias.

Penso que o não atendimento à necessidade de manutenção do nosso património histórico edificado é um problema muito em linha com esse outro património cultural de tradições e costumes..., que corremos o risco de perder em nome da higiene e segurança,etc...

Nestes últimos trinta anos corremos muito para apanhar o chamado pelotão da frente,....estamos a caminho de "esgotar as forças" de uma segunda geração na passagem do testemunho para uma modernidade que não pode deixar de se nos afigurar acelerada.

Sabemos como tem sido dificil a gestão de parcos recursos,...na família com principal acuidade nos mais velhos (tantas vezes esquecidos), como no património edificado colectivo.

Parece-me uma questão transversal a toda a sociedade portuguesa, no momento, a priorização dos recursos! Questionável, sempre!

Sei por formação, que não é mesmo nada barato, (muito pelo contrário) recuperar património edificado. Ou se faz como deve, ou é preferível não mexer (porque estraga mais); o testemunho aos vindouros não deve ser adulterado.

Diria que no futuro " aquelas pedras" contarão a história dos que edificaram, mas também a história, dos que não conseguiram manter.

Tudo isto em linha, com as tradições e costumes,que a ASAE parece ter que destruir...dou um exemplo,para me explicar melhor:

Somos o único país na europa comunitária com serviços de lotas e vendagem de pescado,( empresa pública a acumular prejuízos),...e para assegurar a higiene no manuseamento,embalagem e transporte do pescado com a qualidade, digamos média, da comercialização feita nos restantes países comunitários não chega esse controle das lotas.

Os pescadores continuam a achar que o cachorro pode conviver com as caixas de peixe, os comerciantes acham que nada impede que as lexívias estejam por baixo da bancada, etc,etc...É preciso transpôr normas europeias de manuseamento e acondicionamento de pescado fresco,...única forma do mesmo circular além fronteiras com garantia veterinária.

Normas que rejeitam porque complicam e muito a vida (financeira) a pescadores e comerciantes, sem dúvida!

E quem não conhece os simpáticos mercados semanais, ao ar livre, em tendas de rua, (onde se compra desde peixe,carne, a frutas,...) em capitais como Amesterdão ou Paris!?

A tal vida de tradições e costumes de que fala António Barreto!

E ntão,... se nem lotas há !?

Bom! Não há lotas, nem são precisas, porque o(s) pescador(es) e o(s) comerciante(s) de peixe, há muito que livremente adoptaram procedimentos de higienização, ( sem a piada dos cães, das lexivias, ou outros que tais) validados por veterinários.

Procedimentos que, ao provarem o seu acerto, viraram Norma.

O António Barreto, esqueceu que, à semelhança dos "velhos" prédios de Paris ou Amesterdão, onde existem casas do mais moderno conforto,...as "velhas tradições" de feiras semanais com tendas, ao pé da porta, vendem produtos que chegam pela mão de homens e mulheres (modernos!?) que não precisaram da Norma para praticarem um manuseamento e acondiciomanento correcto e validado por especialistas.

O homem e a circunstância! Indissociáveis.

Roma e Pavia, não se fez,...e por vezes penso que por querermos chegar tão depressa, ainda acabamos por nos estampar.

Oxalá a próxima geração seja capaz do tal Património, e nós que vejamos. Já agora, com uma velhice confortável.

Respigado de:Fórum_Campingcar_Portugal

As Pedras no Caminho


"Posso ter defeitos, viver ansioso e ficar irritado algumas vezes mas, não
esqueço de que minha vida é a maior empresa do mundo, e posso evitar que ela
vá à falência.

Ser feliz é reconhecer que vale a pena viver apesar de todos os desafios,
incompreensões e períodos de crise. Ser feliz é deixar de ser vítima dos
problemas e se tornar um autor da própria história.

É atravessar desertos fora de si, mas ser capaz de encontrar um oásis no
recôndito da sua alma.

É agradecer a Deus a cada manhã pelo milagre da vida. Ser feliz é não ter
medo dos próprios sentimentos. É saber falar de si mesmo. É ter coragem para
ouvir um "não". É ter segurança para receber uma crítica, mesmo que injusta.

Pedras no caminho?
Guardo todas; um dia... VOU CONSTRUIR UM CASTELO..."

por, Fernando Pessoa

Sem marcações nem outras complicações (sic)

Estudo Prévio "Área para Autocaravanas" -Torreira -Port.

Estória´s da aviação, pela voz da Hospedeira,...

Era para ser um voo simples.Saíamos de Lisboa - Portugal às 21h para chegarmos a Havana – Cuba pelas 5/6h e voltávamos para casa ainda nessa madrugada.

Mas as coisas complicaram-se...

A meio do Atlântico o Comandante recebe a informação de que o Furacão Erika subiu na escala, tornando-se agora perigoso também para quem voa.Pede-nos para prepararmos a cabine para um eventual acidente e estarmos alerta para qualquer coisa que possa acontecer.Nós aprontamo-nos, mas no entanto, após duas horas de angústia passadas, ainda nada de Erika.

Pelas 4h a Susana dá ordens para servirmos o pequeno almoço.Em cada carrinho vão duas pessoas, uma à frente e outra atrás – uma dá as bandejas e o outro as bebidas escolhidas. Nas pontas do avião, ficam os outros colegas que em seguida vão servir o chá e o café.Eu estava mesmo a servir à frente, quando o avião desceu a pique cerca de 10.000 pés !! (cerca de 3 kilómetros).

Senti o corpo a projectar-se num sítio qualquer, e os tabuleiros das pessoas todos a colarem-se no tecto do avião. Tudo rodopiava no meio da cabine do avião e por segundos achei que íamos cair... assim... a pique.O avião estava completamente descontrolado.As pessoas num silêncio mórbido. E tudo aos trambolhões na cabine. Bagageiras abertas e as malas a caírem, as bandejas a voarem, as garrafas da coca-cola a entornarem, guardanapos no ar.. e tu abanava, tudo abanava!!!

Levantei-me do chão e corri para o fundo da cabine, saltando tudo – carrinhos, bancos, passageiros, e mais que houvesse!! Vejo o Francisco no chão e corro para ele. Tem sangue no rosto, mas nada de grave, e lembrando o voo da Madeira – não é hoje amiga, não é hoje!!

Levantamos a correr e começamos a tentar fechar tudo no avião: gavetas, armários, bagageiras!!! É um pânico!É um pânico! É um medo tão grande que vai para lá do choro...

Eu corro a empurrar um carrinho que está no corredor do avião. Só penso que tenho de o arrumar. É um peso bruto!! Tudo em ferro e só tenho medo que acerte em alguma criança. À medida que o empurro vou chamando pelos meus colegas e respondendo às suas vozes. Está escuro, o avião estabilizou a altitude, mas a turbulência continua fustigadora. Um carrocel.Empurro o carro até que encontro o sítio onde pertence, mas a turbulência e o seu peso não me deixam arruma-lo. Tudo abana à minha volta. Eu empurro, mas sinto-me sem forças, e assim que cedo, o carro ganha balanço projectando-se contra mim e empurrando-me para o chão.Sinto uma dor, vejo uma coisa cheia de pintinhas brancas e quase desmaio.

Vejo os meus colegas aos gritos, a tentarem ajudar os passageiros e a cabine silenciosa.Um silêncio escuro, mórbido, de medo. Quando é grave, não há gritos dos passageiros... há silêncio.As luzes voltam e eu posso ver que estou encurralada entre o carro e um armário do avião. Grito pela Susana, mas é a Rita que me ouve e tira o carro de cima.Não tenho sangue, mas a dor no braço direito é forte. Como temos todos o curso de Socorristas do INEM, a Rita imobiliza-me o braço com a gravata da farda e seguimos para ajudar toda a gente.

Agora o avião já estabilizou, as luzes voltaram totalmente e a turbulência passou.Há algumas pessoas feridas, mas muitas mais cheias de ovo mexido na cabeça, cara e ombros.Não consigo deixar de me rir!!Dói-me o braço, apanhei um "granda cagaço", e não me consigo deixar de rir de ver aquele avião com ovos por todo o lado, coca-cola por toda a parte, malas no chão bagageiras abertas, passageiros brancos como a cal!!!!Arrumámos tudo, limpámos tudo, organizámos tudo e seguimos viagem.

Era para ser um voo simples.Saíamos de Lisboa - Portugal às 21h para chegarmos a Havana – Cuba pelas 5/6h e voltávamos para casa ainda nessa madrugada.

Mas como se deu aquilo, o Comandante faz uma reunion call explicando que o Erika mudara de rumo no exacto momento em que passávamos, e nós ainda apanhámos os restos dos ventos ciclónicos.Diz-nos que temos de aterrar em Punta Cana – República Dominicana para medir os estragos da aeronave e ver a possibilidade de voar para Havana – Cuba.

Começamos a preparar a aterragem, e agora já passageiros choram e conversam connosco. Muitos estão traumatizados, assustados... quase em choque. Tentamos acalma-los dizendo que é normal, que já nos aconteceu montes de vezes (que mesmo que não seja a verdade, pelo menos tira-lhes o pânico...)Eu continuo cheia de dores a arranjar coragem para algo que sei inevitável: tenho a clavicula deslocada e só há duas maneiras de a por no sitio – ou num hospital, ou num choque brutal como se faz no Judo.

Um hospital em Punta Cana, está fora de questão! O Luis pratica Judo desde miúdo e só está à espera da minha mentalização, para me dar um empurrão contra a parede, com toda a força, ao mesmo tempo que com a mão me empurra o osso para o lugar.Respiro fundo, lembro-me da força e digo-lhe que sim.Do resto não me lembro, porque desmaiei toda junta para os braços da Kátia que ficou encarregue de me amparar se isso se desse.

Estamos quase a aterrar.

A cabine começa a ficar agitada, as pessoas estão cheias de medo. Faz parte do nosso trabalho tranquiliza-los. As raparigas retocam a pintura, os rapazes compõem a farda, e estamos como se nada se tivesses passado.Estamos ali para assegurar assistência, segurança, conforto. O resto fica para depois – quando enfiarmos “os cornos” numa garrafa de Rum!Começamos a descer e eu já me sinto bem!Estou feliz! Sinto-me feliz! Viva! Desperta! Agradecida!Aterramos em Punta Cana e como estaremos cerca de duas horas parados, vamos deixar sair os passageiros para esticarem as pernas, fumar um cigarro e chorarem à vontade.

Mal aterramos, mesmo à minha frente, uma senhora descalça-se. Acho estranho, mas por vezes os pés incham e há pessoas que saem descalças do avião.Mas qual é o meu espanto, quando a mulher agarra no sapato e desata a bater no marido!!!!Parecia possuída!! Doida varrida!!! O Demónio!!!Dava-lhe tanta porrada, tanta porrada, mas tanta porrada, que o homem só tinha tempo de se defender com os braços no ar!!!Ela, à medida que lhe dava com o salto do sapato onde calhava, só berrava:

- filho da puta!!! Queres matar-me!!! cabrão!!!! Filho da puta!!!!


Eu e a Susana, estávamos parvas com aquilo!!! O que se faz numa situação destas? Como se acalma uma pessoa em histerismo depois daquilo tudo?Simples!A Kátia vem lá de trás a correr, chegou ao pé dela e deu-lhe duas grandas bofatadas no focinho que a mulher até estrabuchou!!
- Acalme-se já, sua maluca!!! - gritava a Kátia – vamos já a parar com isso!!!

Eu e a Susana ficámos parvas a olhar!! Isto não nos estava a acontecer!! Caramba! Depois de um voo destes, uma histérica a bordo.... NNNNÃÃÃOO!!!!A mulher acalmou-se, limpamos o sangue do homem que ficou de sobrolho e lábio aberto e fizemos o desembarque.

Toda a gente saiu e ficámos nós.

Nós.

O Avião.

Capri

Um lugar verdadeiramente cosmopolita!
Gentes das mais variadas espécies e regiões mais diversas, a viver perfeitamente adaptadas ao meio e em respeito natural pelo ambiente, tradição sócio-económica, urbana e cultural.
Um lugar de paixões entre endinheirados e sobreviventes, entre jovens e velhos lobos do mar. Ali os colares de pérolas, frequentemente cozem-se com as redes e bóias de pesca, num olhar parado sobre a baía,... sob um sol do meio-dia.
Enigmático.


Fóruns

Logo no inicio deste blog dei boa nota da informação recolhida em blogs e sites de referência em portugal para iniciação em autocaravanismo.

Conhecia-os por fora,..depois de me ter registado num deles e ter espreitado por dentro, confesso ter esfriado o entusiasmo,...e fiquei à porta.

Hoje verifiquei o anúncio de encerramento (temporário!?) de um destes fóruns e congratulo-me com essa decisão.Não é possível dar cobertura institucional a espaços de "debate" que se revelam em roda livre,..sem moderação efectiva.

Bem sei que todo o trabalho feito (e sei que tem sido muito e variado) em prol do autocaravanismo é um trabalho de carolice, só ao alcance dos melhores,... mas quando os resultados da acção não enformam a dignidade do(s) projecto(s) é preferível pôr-lhes cobro.

Hoje, encerrou o fórum do CPA ! É minha convicção que em defesa da nobreza dos propósitos com que foram criados, outros fóruns deveriam seguir-lhe o exemplo.

Viajar ! Perder países!

Viajar! Perder países!
Ser outro constantemente,
Por a alma não ter raízes
De viver de ver somente!

Não pertencer nem a mim!
Ir em frente, ir a seguir
A ausência de ter um fim,
E a ânsia de o conseguir!

Viajar assim é viagem.
Mas faço-o sem ter de meu
Mais que o sonho da passagem.
O resto é só terra e céu.

Fernando Pessoa

Antalya

Ele, na casa dos sessenta anos, explicava ao detalhe a sequência de invasões e ocupações que tinham levado ao derrube de tantas e tão grandes colunas de pedra. Antalya histórica, palco de memórias de rendição a frigios, lídios, persas, e.... ainda projectéis mais modernos cravados em paredes milenares a marcar a passagem mais recente de tropas alemãs.
De fato e gravata, sob um calor abrazador, e lençinho branco agitado ao nível da cara com a mão direita,.... ia reclamando a Turquia como membro de pleno direito cultural e social da comunidade europeia. Ali todos os anos afluem milhares de europeus para disfrutar das praias da Riviera Turca.
Mais á frente quando lhe disse que na europa ele já estaria em dourada reforma e como guia teríamos uma bela jovem de formas redondas e pouco vestida a acompanhar-nos,.. fixou-me um olhar de protesto,quase revolta, e logo ali deixou morrer a alma europeísta;presumo que em defesa da condição feminina e da dignidade do homem turco.

Cairo

Cairo, é quasi sinónimo de caos.

A desorganização geral do ambiente urbano e humano, tem máxima expressão na fluidez do trânsito automóvel,tão errático quanto dificil e absolutamente admirável,...onde se cruzam de forma desalinhada, camionetas de passageiros com mercadorias, carros com muitos anos exportados da europa e muitos de tracção animal. Desordem sublinhada pelas barreiras dos cordões policiais que a todo momento acompanham e fazem guarda aos movimentos da multidão de turistas.

Respira-se uma espécie de embriaguês generalizada com a História,... dos que chegam em visita rápida, mas sobretudo, dos que lá vivem à gerações, de olhos e modo de vida postos só e sempre num passado grandioso, a parecer-lhes "dramáticamente" irrepetível

Viajar

“Que viajar é poder partir-se
para o lugar
em frente,
que cada lugar só impressiona
porque sugere
a visibilidade do próximo.
E que no fim,
quando abandonamos tudo
E já não ouvimos senão o
repique dos sinos,
As paisagens deixam de existir
para não
Passar do que a respiração
liberta.
O que nos conduz é podermos
sepultar o
Corpo noutro lugar;
Porque em todos os sítios
passados deixámos o corpo
À vista do lugar mais próximo.”

Rui Cóias