Lourdes/Nazaré - A Última Etapa

25 e 26.08.08 - Dia_22 e 23

Viagem que é viagem só começa, nunca termina, entranha-se, adquire vida própria e, dentro, viaja.

E, dentro, viaja muito depois de termos chegado. Em reconstruções de agradáveis, surpreendentes e tranquilas memórias.

As viagens somos nós.
A confirmação e reinvenção de nós, em proximidade e diálogo com o mundo na capacidade de ainda nos surpreendermos ou simplesmente contemplar e disso tirar prazer e alegria.
As viagens são sempre a nós, aos nossos confins, aos sítios de nós onde ainda não tínhamos estado. Quanto mais conhecemos do mundo, mais ele se torna maior. E nisso não existe maior grandeza.

A nossa primeira experiência autocaravanista, teve assim o sabor de um cozinhado gourmet em ambientes de natureza só acessíveis a visitantes informais, com o glamour da simpatia e simplicidade, com que o mundo e as suas gentes se nos oferecem, quando estamos preparados para partilhar essa mesa em paz.

Depois daquela conversa com o Sr. Manuel Pombal, a Nazaré passou de imediato a próximo destino. As saudades de casa bateram e a passagem programada pela expo-Saragoça já era,.. abandonado também, muito pelo excessivo calor que lá, por certo se sentiria.
Em regresso acelerado, saimos de Lourdes deixando o nosso abençoado lugar de estacionamento ao segundo autocaravanista português de toda a viajem.
Com uma última pernoita em Palencia, uma paragem no Carrefour de Sevilha para recuerdos, fizémos os últimos kilómetros descobrindo e conjungando a agenda, para possíveis e desejadas rotas noutras saídas imediatas.
Confirmá-mos aos cinquenta as expectativas de agradáveis aventuras sonhadas aos vinte, e aí teimosamente nos mantêmos. A ver vamos até onde o engenho e a sorte nos levará...
Desta feita contamos 23 dias e 4800 km de liberdade, imperdível.

Regressados a casa.

Lourdes - A Rosa Púrpura

24.08.08 - Dia_21

- Boa noite, precisa de ajuda?

- Viva,...(ohhhhi, aqui já se fala português) 1 moeda de euro, para meter água potável, tem?,

e 120 litros depois...

-Olhe, nós vamos para Bordeaux, onde residimos e trabalhamos à 32 anos...,estamos a chegar da Nazaré!

- Ah sim!?!!!!!?!?!??!? Como assim?

- Gostamos muito da Nazaré, passamos lá férias há muitos anos, vinte dias todos os Agostos,...temos lá um apartamento muito bom.

- Ah sim !? Não me diga !? Estão a chegar de lá agora? E como é que se está lá, muita gente? Calor ou chuva?

- Passámos vinte dias maravilhosos,...

-Como o mundo é pequeno,...e ao mesmo tempo grande.Há vinte dias que ando por aí, sem encontrar um português, e agora aparece-me o Sr. Manuel , noite dentro, a falar português,a dizer-me que vem exactamente da terra onde nasci e vivo, e a dizer-me que tem um apartamento num prédio de que fomos autores e de que fizémos o controlo de qualidade,...que coincidência estranha Sr. Manuel,...Lourdes é mesmo um lugar de milagres.

Lourdes, a própria, a desobecer de novo a toda a gente, para mais um encontro com o Sagrado.

E é no vale , junto às montanhas!

Tudo com um ar muito fresco, apesar das multidões, respira-se ar puro, os Pirinéus dão a ambiencia e o perfume perfeito.

A paisagem é emoldurada por humanos em estado contemplativo

A Basílica

A Santa


A promessa


O ritual

A devota


A Rosa Púrpura

Vermelha a atirar para o roxo.
Estofo tinto com a cor da púrpura.
As vestimentas régias (que antigamente eram cor de púrpura).
A dignidade real, o trono.
A dignidade de cardeal. A dignidade do cônsul romano.
Púrpura hemorrágica ou simplesmente púrpura

Tão púrpura foi que não suporta agora ver-se a murchar. E escolheu deixar-se levar. Escolheu deixar-se morrer.
Por sua vontade, escreveria um sublime texto de despedida.

Um texto que poderia ser o seu extenso epitáfio, mas sabe que ninguém a chorará.

Ninguém lamentará a sua morte e poucos se lembrarão dela quando outra tomar o seu lugar. É mesmo assim. Há sempre um dia em que largamos a amarra que nos prende ao cais.

E deixamo-nos ir. Sem pena. Sem dor. Apenas com a quietude de quem fez mal porque não soube fazer bem. Com a quietude do monstro que não soube fazer melhor.

CPA - Porta de Entrada no Autocaravanismo Português!?

Nada mais falso!

Mas quem por este nosso país, vai chegando ao autocaravanismo,antes demais encontra e é seduzido por esta sigla, CPA- clube PORTUGUÊS de autocaravanas.

Nada mais ilusório e falso! É um não governo.

O CPA é hoje, como ontem, um pequeno clube de afectos, festas e romarias...nada tem que o distinga de uma associação Campingcar-Portugal,de um CAN, de um CAS ou até mesmo de um CAB/MIDAP, como quaisquer outros pequenos clubes e associações.

O CPA reúne estatísticamente os seus imensos e novos associados,num primeiro momento aí filiados, semcuidar nem dar resposta às suas preocupações maiores,... de porquê o actual estado das coisas!?, porquê tão poucas AS´s!?,, porquê tanto desperdício e tanto autismo?! porquê tanto desencontro!?, porquê é que ninguém consegue ajudara fazer mais e melhor?!porquê tanta saudade do futuro e tanto fado!?... desperdiçando renovadas motivações e entusiasmos.


O exemplo do recém-chegado, Companheiro Capitão Haddock (aqui: http://vitorsilva.blogspot.com/2009/04/o-encontro-de-abrantes-i.html ) e a sua deriva é um fenónemo comum a todos recém-chegados ao CPA, comigo aconteceu coisa idêntica...embora não tivesse precisado de lá ir.

Porventura Boaventura é o Companheiro que representará o que de melhor tem de operacional o CPA, por conta própria lá vai conseguindo montar novas AS´s,... bem como o Companheiro Decarvalho, também muito por conta própria, representará o que melhor tem de operacional o CAB/MIDAP...

Contudo, o movimento associativo, potenciando o inestimável contributo de companheiros mais entusiastas e dedicados, não pode viver de,...nem para eles!

Até porque a pura e simples entrega generosa à coisa pública tem naturais limites um natural términus...

Seja por deficiência orgânica congénita, seja por deficiente afiliação na Federação de Campismo, a não emancipação do CPA, é uma evidência aos olhos de quem, por essa porta,vai chegando ao autocaravanismo português,... e com a mesma velocidade vai saindo apesar do registo perene como sócio,..

É evindente a necessidade de congregar estes clubes e associações e os mais que se adivinham numa estrutura representativa e cujos objectivos sejam uma verdadeira institucionalização representativa do autocaravanismo em Portugal.

Percebe-se hoje melhor a natural limitação operacional de todos eles,de motivação pelo convívio e de afectos legítimos,... é o CPA que carrega pomposamente um maior número de pseudo-associados, que não quer ou não se soube ajustar ao peso da responsabilidade representativa, que deriva da sua designação e pretensa institucionalização.

Deverá assim na futura ONG de autocaravanismo, o CPA ser convidado a ter assento, exactamente com a mesma e idêntica representatividade dos demais Clubes ou Associações existentes, conhecidos e antes mencionados,...os recentes desenvolvimentos no cenário autocaravanista nacional, mostra bem que só com a participação de todos, o natural protagonismo de alguns, poderá ser continuado no futuro.

Devo-lo-ão reivindicar todos os outros.... o seminário de Cascais é o sítio!

I Seminário MIDAP

Cascais - Cisterna da Fortaleza, 22, 23 e 24 de Maio



Já no virtual fórum CPA, havia uma vez expressado a convicção de que a realização de um seminário que reúna comunicações com a perspectiva passada e futura de todos os intervenientes do sector, me parece a melhor forma de organizar um dossier de suporte político alicerçado económica e socialmente, capaz de ser irrefutável base de apresentação e trabalho junto de decisores políticos.



Esperemos que as comunicações a produzir pelos intervenientes anunciados, certamente de alento e com talento, juntamente com uma caracterização sócio-económica do turismo autocaravanista como a produzida pela C.C.R.Algarve (ou essa mesmo) ,possam constituir-se numa compilação de argumentos, capaz de influenciar munícipios e associações a descobrir as vantagens de um investimento em infraestruras para a modalidade.



Ou e ainda, que pelo menos as ofertas/soluções em AS´s e Parqueamentos a promover pela autarquia de Cascais possam servir como exemplo,...afinal Cascais é a nossa menina mais rica.



O I Seminário Midap sobre Autocaravanismo, com os ingredientes que se anuncia, localização e intervenientes, deve perspassar a satisfação e apoio de todos os autocaravanistas, com a esperança de que o cariz fortemente político e oxalá mediático do evento se constitua numa oportunidade para o desenho de uma ONG sobre autocaravanismo onde intervenientes da indústria e comércio de produção de equipamentos de bens e lazer relacionados, associações representativas do poder local artes tradiocinais e ambiente poderão no futuro dar expressão relevante da interdependencia, necessidades e complementaridade para a actividade, de uma forma interessada e interessante.



Seria o princípio da idade adulta, do Autocaravanismo.



Tudo em ordem a um processo de transformação da imagem de um autocaravanista inconveniente, para um autocaravanista desejado,...e isso é absolutamente Estratégico!



Só com essa inversão (de inconveniente para desejado) será possível acalentar a esperança da adesão de concelhos e freguesias na criação de infraestruturas dedicadas e com qualidade,...trezentos e tal municipios, seis mil e tal freguesias é muita área de serviço, e senão fôr assim será trabalho para muitos anos...se a moda pegásse seria notável.



Parabéns ao MIDAP.


O III Encontro do CAB

08 e 09.05.09 - Minas do Lousal

Se gostásse de excursões,... não tinha comprado uma autocaravana!

A ideia de ver camionetas, autocarros ou simplesmente autocaravanas em longas filas na estrada,...fere completamente a minha sensibilidade de automobilista! Bastam-me os inevitáveis "confrontos" com os amontoados ligeiros em longas fila, nas horas de ponta, com que por vezes um malfadado aparente destino comum nos brinda a uns e a outros, roubando horas e serenidade.

Sempre achei algumas dessas, mais divulgadas imagens do associativismo autocaravanista, um dos seus piores cartões de visita,...por vezes, até com infeliz honra de capa de revista.
Porque não gosto de excursões,... sei bem as oportunidades perdidas, de visita ou simples passeios, a lugares e locais, que só se abrem e deixam melhor conhecer, quando préviamente se preparam para receber e mostrar-se em plenitude, a um significativo número de visitantes em grupo.

A formação do CAB- Círculo Autocaravanista da Blogosfera, com os poucos blogues dedicados ao turismo itinerante em autocaravana, então conhecidos,...foi fundado, podemos dizê-lo, numa época de turbulência e total desconversa no virtual fórum CPA.

A nossa imediata adesão foi um acto de fé !
Fé na crença de que,... quem sabe faz, quem não sabe, só ensina!

A qualidade da convocatória, a qualidade do programa e as posteriores notícias do que foi o segundo encontro do CAB, no Centro de Interpretação da Batalha de Aljubarrota,...marcou-nos definitivamente a agenda, em boa hora, para o terceiro encontro de Minas do Lousal,...e à terceira foi de vez.

E foi a minha vez,... de testemunhar a jovialiadade e frescura da acção "política" experimentada e a qualidade e justeza de uma livre reacção coloquial esclarecida, tudo num caldo de generosidade,... indispensável a tão provectas idades.

Entre a arqueologia industrial e revolucionária, Minas do Lousal, voltou a viver momentos de conspiração positiva em nome da responsabilidade social de ser português e autocaravanista ostracizado,... de forma prazenteira!

A coordenação do CAB e a organização deste III Encontro, estão de parabéns! Enderecei, ainda lá, o nosso agradecimento a quem ombreou com a excelente organização.

Este nosso testemunho, agora publicado só faz sentido,... como incentivo a todos os autocaravanistas com blogue, que considerem a possibilidade de virem a estar presentes num próximo encontro.
Valerá seguramente a pena ...

Rocamador

23.08.08 - Dia_20


Em galego-português, que no Século XIII era a língua fundamental da lírica culta em Castela.


Como Santa Maria livrou un mercador do perigoo das ondas do mar en que cuidava[morrer] u caera da nave.



A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado,ben pode valer a todo perigoado.


Ca per ela foi a morte destroyda
e nossa saude cobrada e vida,
tod' est avemos pola Sennor comprida.
Pois un seu miragre vos direi de grado
A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...



Que fez esta Virgen santa e Reynna,

que é dos coitados todos meeza;

contar-vo-lo-ei brevement' e agynna

quant' end' aprendi a quen mio á contado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...




Entre Doir' e Mynn' en Portugal morava

un mercador [rico] muito que amava

Santa Maria e por ela fiava,

e ena servir sempr' era seu cuidado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...

Como quer que el pelas terras mercasse,

se dõa fremos' e aposta achassee

que pera o altar lle semellasse,

de lla aduzer era muit' entregado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...

Porque amava muito Santa Mariade coraçon,

disse ca en romaria

a Rocamador de bõa ment' irya

tanto que o el podess' aver guisado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


Assi foi que el ssa nav' ouve fretada

pera yr a Frandes; e essa vegada,

pois que ouve ben sa fazenda guisada,

foi-sse con quant' aver avia mercado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...




Mais pela costeira do gran mar d'Espanna

ind' aquela nave con mui gran companna,

levantou-s' o mar con tormenta tamanna

que muito per foi aquel dia irado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado


Levantou sas ondas fortes feramente

sobr' aquela nave, que aquela gente

cuidou y morrer, que logo mantenente

chorou e coidou enton y seu pecado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


E o mercador eno bordo da nave

estava enton encima da trave,

e ha onda vo fort' e mui grave

que lle deu [no] peit', e no mar foi deitado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


A nav' alongada foi, se Deus me valla,

del ha gran peça pelo mar, sen falla;

mai-lo demo, que senpre nosco traballa,

quisera que morres y log' affogado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...

El andand' assi en aquela tormenta,

nenbrou-sse da Virgen que senpr' acrecenta

eno nosso ben; ca pero que nos tenta

o demo, non pode nosc', a Deus loado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


«Ai, Madre de Deus,» diss' el, «teu ben m'ajude,

tu que es Sennor santa de gran vertude;

pois a todo-los coitados dás saude,

nenbra-te de mi que ando tan coitado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


Sennor, por merece non me desanpares

por algu tempo t' eu fazer pesares,

e se mi ora daquestas ondas tirares,

servir-t-ei eu sempr' e farei teu mandado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


Nenbra-te, Sennor, que t' ei eu prometudo

d'ir aa ta casa, est' é ben sabudo;

mas tu, dos coitados esforç' e escudo,

val-me, Sennor, ca muit' and' atormentado.»

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...



El esto dizendo, log' a Virgen santa

vo, que o dem' e seus feitos quebranta;

come Sennor bõa que os seus avanta,

fora d' ontr' as ondas o ouve tirado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


E fez enton y gran maravilla fera,

ca tornou o mar mansso de qual ant' era.

Se ll' el algun tempo servijo fezera,

mui ben llo per ouv' aly gualardõado

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


E levou-o salvo a terra segura,

que sol non sentiu coita nen rancura;

esto fez a da virgdade pura,

que por nos viu seu Fillo crucifigado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


E ante dez dias, oý por verdade,

que a nave foss' a aquela cidade

u portar avia, pola piadadede

Santa Maria foi el y chegado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


E tanto que os da nav' aly chegaron,

poi-lo viron, todos sse maravillaron;

e os seus enton mui ledos per tornaron,

e contou-lles el quant' avia passado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...


E o mercador, pois se tornou de França

e feien ssa terra, sen longa tardança

a Rocamador se foi, e confiançana

Virgen sempr' ouv'. Ei-vo-lo acabado.

A [de] que Deus pres carn' e foi dela nado...

Obtido em "http://pt.wikisource.org/wiki/Cantigas_de_Santa_Maria/CCLXVII"




Primeiro Saint-Michéle, depois Rocamador , amanhã Lourdes...nem de propósito,... são os três maiores santuários de França. Haja esperança e Fé !





Aproximadamente 400km

Viajar

“Viajar é como estar sentado diante de um quadro que actua sobre a pessoa como um pano de fundo, a enquadra e dá uma direcção à sua viagem.
Também se poderia pensar (experienciar) como um estado em que espaço e tempo se diluem um no outro. Sente-se a viagem como uma paralisação, uma constante, um caos, que surge com uma determinada precisão que não é, contudo, percepcionada como verdadeira devido à passividade do viajante.
Este regista e recolhe o que experiencia. O efeito interior dos seus conceitos éticos determina aquilo que ele procura na viagem.”
Luc Tuymans